" Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem de ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta...

PEDRAS NO CAMINHO? GUARDO TODAS, UM DIA VOU CONSTRUIR UM CASTELO."

Fernando Pessoa

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

PROBLEMAS CAUSADOS PELA PARALISIA CEREBRAL

O Quadril na Paralisia Cerebral

Um alerta aos pais e fisioterapeutas

Os quadris são articulações em risco nas crianças com paralisia cerebral. O tipo de paralisa cerebral com envolvimento completo do corpo, conhecido como Tetraparesia ou Quadriparesia Espástica, é o grupo em que precisamos ter maior atenção.
  Outras características para risco de patologia no quadril são as crianças que caminham pouco, ou não caminham (cadeirantes) e que tem pouco equilíbrio do tronco e pescoço.

O que é o quadril ?

   É uma articulação formada pela cabeça femoral localizada dentro de uma estrutura conhecida como acetábulo. Normalmente, a cabeça do fêmur fica completamente coberta pelo acetábulo, garantindo a boa amplitude de movimentos sem dor.


Por que os quadris sofrem?
  Na paralisia cerebral os músculos são mais tensos e rígidos devido à espasticidade. Com isso, permanecem contraídos involuntariamente, não tendo relaxamento adequado. Isso gera desequilíbrio dos músculos ao redor dos quadris, com predomínio dos músculos que fecham as pernas.
  Do ponto de vista clínico, o que ocorre é uma dificuldade na abertura das pernas para a troca de fraldas, dificuldade nos movimentos do quadril, que tornam-se  rígidos e, progressivamente, há perda da relação anatômica entre cabeça do fêmur e acetábulo.
  Com a evolução da patologia, começa a ocorrer dor durante a manipulação das pernas, dificuldade para ficar sentado na cadeira de rodas devido à dor, exigindo uso de medicamentos analgésicos com frequência.
  qualidade de vida das crianças piora muito porque passam a não tolerar as manipulações durante a fisioterapia, não conseguem ficar em pé com auxilio das fisioterapeutas, tem dor constante, inclusive dificuldade para dormir.


Programa de Vigilância dos Quadris

  Protocolo obrigatório em paralisia cerebral.

  Crianças com paralisia cerebral precisam ter seus quadris monitorados frequentemente.      O tratamento de crianças com Tetraparesia ou Quadriparesia Espastica é multidisciplinar. Neurologista, Pediatra, Pneumologista, Cirurgião Pediátrico, Fisioterapeuta e o Ortopedista Pediátrico, são fundamentais para a boa evolução.
  Cabe ao Ortopedista Pediátrico examinar todas as articulações, determinar o grau de mobilidade, bem como a presença de deformidades. Com relação aos quadris, é fundamental um Programa de Vigilância, que consiste em medir o grau de abertura dos quadris no exame físico e avaliar (com exame de imagem) a relação anatômica da cabeça femoral e do acetábulo a cada consulta. Existem índices conhecidos como Reimers, e índice Acetabular, que são usados para essa medição. O médico assistente deve ter todas essas medições no prontuário.


Qual a periodicidade das avaliações?

Recomenda-se semestral, sempre com exame físico e de imagem.



Sinais de alerta para algo errado:



– Perda progressiva na capacidade de abertura clínica dos quadris;
– Surgimento de contraturas, ou seja, posições anômalas e fixas adotadas pelo quadril, em virtude do desequilíbrio entre os músculos espasticos;
–  Piora progressiva da relação articular entre a cabeça do fêmur e o acetabulo, evidenciado pela piora no índice de Reimers e do índice Acetabular, no exame de imagem, e perda progressiva da cobertura da cabeça femoral pelo acetabulo (devido à migração lateral da cabeça, conhecido por nós como Subluxação Neurológica do Quadril).



Como programar o tratamento?
  Os quadris são articulações nobres na Paralisia Cerebral porque, como vimos anteriormente, as consequências do não-tratamento são devastadoras para a qualidade de vida das crianças.
  Existem três estágios cirúrgicos para o tratamento:
– Cirurgias Preventivas
– Cirurgias Reconstrutivas
– Cirurgias de Salvamento
  Importante saber que uma vez identificado a má relação articular entre o fêmur e o acetabulo, a patologia tende a evoluir com piora progressiva. O que inicialmente era subluxação vai progredir para deslocamento completo (Luxação Neurológica do Quadril),mesmo que a criança esteja em tratamento fisioterápico. A evolução só consegue ser interrompida com a cirurgia ortopédica.Portanto, diagnóstico e cirurgia precoce para os quadris são fundamentais para a boa evolução.



Cirurgia Preventiva

 Trata-se de alongamentos tendinosos dos  músculos espasticos responsáveis pelas deformidades e, consequente, subluxação dos quadris. Conseguimos reequilibrar as forças que atuam no quadril.
  As incisões cirúrgicas são pequenas, não há internação prolongada, a perda sanguínea é mínima e no pós-operatório há um pequeno período de gesso mantendo as pernas abertas. A criança pode sentar e deitar com o gesso na dependência dos sintomas.
  Indicado nos casos de diagnóstico precoce, onde há grande limitação clínica na abertura dos quadris, porém com sinais iniciais de subluxação.
  O resultado cirúrgico é excelente no que diz respeito ao ganho de movimento, facilitando muito a abertura dos quadris para as trocas de fralda, além de facilitar a fisioterapia e estabilizar a relação anatômica dos ossos do quadril.


Cirugia Reconstrutiva


  Indicada quando o grau de deslocamento lateral da cabeça do fêmur é grave, com grande perda de cobertura do acetabulo, ou onde o quadril já está deslocado (Luxação Neurológica do Quadril).
  Pré-requisito básico para a indicação é a forma da cabeça femoral ainda esférica. São cirúrgicas de grande porte onde, além dos alongamentos tendinosos, associamos às cirurgias ósseas para corrigir o fêmur e o acetabulo (osteotomias).
  Há previsão de reposição de sangue durante a cirurgia, incisões cirurgias são maiores e o pós-operatório é feito com grande aparelho gessado e por tempo mais prolongado.
  Oferece bons resultados com restabelecimento da anatomia do quadril, analgesia, ganho de movimento e conforto para a criança sentar e ficar em posição de pé com auxilio da fisioterapia.


Cirurgia de Salvamento


  Indicada em fases tardias da patologia, onde a cabeça femoral já esta deformada, sendo impossível restabelecer a relação anatômica normal do quadril. Nesta fase a criança tem muita dor, não permite a manipulação do quadril e o objetivo da cirurgiaé simplesmente alívio da dor. Trata-se também de cirurgia de grande porte, onde realizamos a Osteotomia Femoral, com ou sem ressecção da cabeça femoral deformada associada. Os resultados quanto à analgesia não são imediatos, porém a longo prazo o alivio é satisfatório.
  O Programa de Vigilância é consagrado no mundo inteiro, e tem cada vez mais diminuído a incidência de cirurgias de grande porte para proteção dos quadris espasticos.
  Essa conscientização é muito importante para familiares e todos os profissionais que lidam com a criança espastica. Manter a saúde como um todo é muito importante, porém atenção especial deve ser dada aos quadris, que poderão ser fonte de muito problema se não acompanhados e tratados precocemente.




 Escoliose na Paralisia Cerebral



A escoliose é um desvio tridimensional da coluna vertebral, cujo principal componente é a deformidade lateral e rotacional vertebral.
As crianças com paralisia cerebral e envolvimento completo corporal, ou seja, as tetraparéticas, não andadoras, são as mais acometidas pela deformidade vertebral.
Trata-se de um grupo de crianças e adolescentes com paralisia cerebral cuja classificação motora funcional tem como característica, a incapacidade para marcha, pouca sustentação da cabeça, pescoço e tronco sendo portando, necessário o deslocamento com cadeira de rodas.
A deformidade vertebral não é só lateral e rotacional, muita vezes, tem componentes importantes em hirpercifose e hiperlordose que levam a dificuldades no manuseio diário das crianças.
Por que surge a escoliose?
Na tetraparesia espástica, a escoliose surge devido a espasticidade da musculatura paravertebral, incapacidade de sustentação do tronco e fraqueza muscular.
Quando a deformidade é progressiva, os principais problemas citados pelos cuidadores e familiares são:
– A diminuição da tolerância das crianças de permanecerem sentados com conforto na cadeira de rodas;
– Dor na coluna vertebral devido a deformidades acentuadas, não só lateral mas também, em hipercifose e hiperlordose;
– Desvio da pelve (obliquidade pelve), onde um dos lados da pelve (osso da bacia) se eleva, dificultando o posicionamento sentado da criança. Além disso, o desvio da pelve é um dos fatores que levam a deslocamento do quadril com surgimento de dor e deformidade nesta articulação;
– Quando existe deformidade em hipercifose torácica, a dificuldade em sustentar o tronco, leva a prejuízo na alimentação dos pacientes que o fazem por via oral e que não tem gastrostomia;
– Deformidades acentuadas toracolombares levam a prejuízo respiratório e dificuldade na mobilização de secreções respiratórias.
A consulta médica ortopédica:
A avaliação médica deve levar em consideração todos os problemas citados acima, o exame físico da deformidade, principalmente no que diz respeito a flexibilidade das curva e a presença de obliquidade pélvica, o equilíbrio do tronco quando a criança estiver sentada e a avaliação radiológica da deformidade com medição da curva no plano coronal e sagital.
O tratamento:
Em crianças de baixa idade, com curvas flexíveis e de baixo valor angular, o tratamento conservador deve ser realizado com medidas fisioterápicas que proporcionem melhora na postura vertebral, adaptações no encosto da cadeira de rodas de forma a corrigir a deformidade com colocação de coxins adaptados ao encosto da cadeira para corrigir as curvas.
Sabemos que uso de coletes não são recomendados para as crianças tetraparéticas espásticas pois, seu uso leva a úlceras na pele, não são bem toleradas e não tem comprovação científica em impedir a progressão da deformidade, portanto, ao invés de coletes, damos preferência a realização de adaptações no encosto da cadeira, feitos na oficina ortopédica.
Nas curvas progressivas, rígidas, com valores angulares acentuados, onde as medidas conservadoras são ineficazes em aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida da criança ou adolescente, estará indicado a correção cirúrgica da deformidade com artrodese vertebral e instrumentação até a pelve.
Trata-se de cirurgia de grande porte porém, que oferece resultados satisfatórios para aquelas deformidades acentuadas, alívio da dor vertebral, correção da aparência da coluna vertebral, aumento da tolerância sentado na cadeira de rodas, interrupção no surgimento de úlceras e correção do desvio da pelve.







Dr. Maurício Rangel é formado em Medicina pela Faculdade Souza Marques (1994) e médico Ortopedista Pediátrico. Trabalha atualmente em consultórios com atendimento ambulatorial e cirurgias ortopédicas pediátricas eletivas. Especialista em diversas patologias musculoesqueléticas em crianças e adolescentes e cirurgias relacionadas.
http://www.criancaesaude.com.br



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